terça-feira, 22 de junho de 2010

ENTREVISTA

Em uma conversa franca com Patrícia Ferraz, 20 anos, estudante de Publicidade da Faculdade Anhembi Morumbi. Registramos o desabafo desta jovem de classe média alta que sempre estudou em escola particular e que a todo o momento era alvo da discriminação, podemos perceber em sua fala o quanto o preconceito racial sofrido teria efeitos gravíssimos se ela não tivesse o apoio da família e dos amigos.

Patrícia quais as escolas que você estudou?

Sempre estudei no Lúmen (escola particular de classe média alta, localizada na Rua Afonso Celso, 671 – Vila Maria, São Paulo (SP)) e eu era a única criança negra da escola. Eram mais de 500 alunos e só eu negra.

Você era alvo de discriminação por parte dos alunos?

Sim. Lembro que tinha uma menina chamada Mariana que era o meu desafeto. Ela sempre me infernizava e dizia que não brincava com “pretos” para não se “sujar”. É chato ter que ouvir isso quando se tem seis anos.

E qual era sua reação?

Nenhuma, não sabia o que fazer, era uma menina negra contra 30 crianças brancas na sala. Muitas vezes só chorava.

E os professores o que faziam nestes casos?

Conversavam comigo, mas eu sentia que aquilo era só pra dizer que fizeram algo. Muitas vezes era levada para a diretoria e tinha que relatar todo o ocorrido, o diretor chamava nossos pais.

E seus pais, o que faziam quando sabiam do que acontecia na escola?

Meus pais sempre foram muito “diplomáticos”, quando iam conversar com o diretor e com os pais de quem me discriminava. Eles não alteravam a voz, eram pacientes em escutar o que eles tinham para falar, mas eram enfáticos ao dizer que o aquilo que passei poderia me tornar uma criança triste. O diretor também era muito cobrado pelo meu pai e depois de várias conversas pude perceber que as coisas foram mudando, passei a ser escolhida nos times durante as aulas de Educação Física, ser convidada as festinhas de aniversário dos meus colegas.

Mas você sempre teve a consciência que é negra?

Minha família é toda negra. Não tinha como não ter essa consciência. Não tenho primos brancos e nem tios brancos, somos todos negros e nos orgulhamos disso.

Quando criança essa consciência já existia?

Não, queria ser igual as minhas colegas, mas sabia que a cor da minha pele não iria mudar e minha mãe sempre conversava sobre isso comigo e com minhas irmãs.

Também queria ser igual a Xuxa, mas tinha certeza que nunca teria o cabelo igual ao dela. É complicado ver que todas as referências de nossa infância eram loiras e com olhos claros, e nosso país abriga uma população tão miscigenada e na sua maioria são negros e índios, povos que possuem poucos méritos e destaque.

Um comentário:

  1. Nossa como é triste passar por uma coisa dessas. Sou oriental e sofri preconceito na escola quando era criança também. Nada tão grave mas fica o trauma. No meu caso, nada foi feito. Mas sempre tive orgulho se der oriental. Temos que ter orgulho do que somos. Parabéns e continuemos a nossa luta contra o preconceito!

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